sábado, 9 de janeiro de 2010

O preço do preconceito


A cidade de São Paulo está descobrindo, a duras penas, que o preconceito tem preço. Isso ocorre porque esse sentimento menor nos leva a fazer escolhas que interferem em nossas vidas e que se baseiam em premissas moralistas que freqüentemente derivam da mais completa amoralidade.
Sim, escrevo sobre o governo Gilberto Kassab, que vai se constituindo em um demonstrativo eloqüente da irresponsabilidade de José Serra, que, a exemplo de Maluf, legou à capital paulista outra nulidade como prefeito.
E nem acho que ocorrerem tantas catástrofes a cada chuva em São Paulo seja o melhor exemplo da péssima administração que tem hoje aquela que é a maior cidade do país e uma das maiores do mundo.
Sejamos francos: sempre tivemos problemas com chuvas. Dependendo da administração, esse problemas são maiores ou menores, mas sempre ocorrem. E isso porque esta cidade cresceu de uma forma insana e prefeito nenhum evitará que eles aconteçam, ainda que possam tomar medidas preventivas que a administração incompetente de minha cidade não tomou.
E por que não tomou? Um dos problemas dessa gente é o ideológico. Kassab acreditou na crise tanto quanto Serra, FHC e a Mídia. Daí que, bem no início dela, o prefeito paulistano cortou quase 7 bilhões de reais do Orçamento por conta de uma queda na arrecadação perfeitamente assimilável.
O governo federal vem amargando quedas na arrecadação desde o início da crise, mas optou por investir em vez de cortar. O resto da história todos conhecem. Já a ideologia tucano-pefelê-midiática, só pensa em cortar. Menos em publicidade, é claro, que neoliberal nenhum é de ferro.
Assim, não acho que a catástrofe causada em São Paulo pelas chuvas seja a maior prova de que o governo paulistano é ruim. O que é ruim é a visão de administração pública dessa gente.
Vejam como a cidade estagnou-se em benefício de governos tucanos e pefelês paulistas e paulistanos acumularem dinheiro em caixa para fabricarem seus superávits fetichistas.
Que inovação se viu nos governos Serra/Kassab? No governo Marta Suplicy foram criados o Bilhete Único, os CEUs, os corredores de ônibus que indignaram a elite paulistana por permitirem que ônibus passassem a 60 km p/ hora enquanto os carros particulares se arrastavam a um terço dessa velocidade nos horários de pico.
Programas de renda mínima contrapuseram-se ao aumento da mendicância e da vadiagem. Escolas inovadoras, com uniforme, transporte, material escolar e cinco refeições ao dia contrapuseram-se a corte de verba para a merenda escolar e merenda racionada e estragada...
Acho, sim, que Kassab deve ter investido mal também nas obras de contenção das enchentes, mas esse problema não foi minorado significativamente em gestão nenhuma. Todo ano é a mesma coisa porque realocação de populações em áreas de risco e obras efetivas contra a impermeabilização do solo jamais foram feitas a contento e esse problema, convenhamos, não ocorre só em São Paulo.
Os paulistanos devem agradecer a si mesmos pelo que estão sofrendo. E não só pelas enchentes, mas pelo conjunto da obra serro-kassabiana. Em vez de ficarem se preocupando se Marta era ou não simpática e se tinha ou não traído Eduardo Suplicy, deveriam ter pensado que o prefeito que escolheriam governaria boa parte de suas vidas.
Eduardo Guimarães

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