Existem imagens que valem por mil palavras e palavras que valem por mil imagens, algumas para o bem, outras para o mal. Lula carregando seu isopor, com a familiaridade de quem, aparentemente, já o fez centenas de vezes, é um exemplo das primeiras, com efeitos claramente positivos para ele e para quem com ele está
O verão de 2010 mal começou, mas seu retrato mais marcante, na vida política, já é conhecido: Lula equilibrando um isopor na cabeça, de bermudas e camiseta, calçando havaianas brancas. A foto foi feita quando ele saía da praia, com dona Marise o seguindo de perto, bolsa a tiracolo.
Houve outras imagens muito fortes neste início de ano, especialmente as de tragédias naturais, sejam internas, como os deslizamentos em Angra dos Reis, sejam acontecidas fora do Brasil, como o terremoto no Haiti. Ainda que chocantes, e por mais que as duas calamidades tenham sido amplificadas pela omissão de governos são, no entanto, imagens que poucas consequências trarão para nossa vida política. Até o fim do ano, terão se tornado retratos de catástrofes particulares, devastadoras para as vítimas e suas famílias, uma vaga lembrança para o conjunto dos brasileiros.
Lula e seu isopor, não. Essa é uma foto que tem tudo para ser lembrada em um ano como este, em que a população não vai apenas votar para escolher o futuro presidente, mas para se pronunciar sobre se está satisfeita ou descontente com o jeito de governar do atual. É cedo para dizer se ela vai concordar que a eleição é essa, mas é certo que Lula vai usar de sua imensa popularidade para levá-la a pensar dessa maneira.
Para quem deseja que a eleição presidencial se torne uma comparação entre "modos de ser", a foto é uma beleza. Nela, quase tudo que a campanha de Dilma tem a dizer de relevante para a vasta maioria do eleitorado está dito. Com a simplicidade e a clareza que fazem com que algumas mensagens sejam compreensíveis por todos.
Existem imagens que valem por mil palavras e palavras que valem por mil imagens, algumas para o bem, outras para o mal. Lula carregando seu isopor, com a familiaridade de quem, aparentemente, já o fez centenas de vezes, é um exemplo das primeiras, com efeitos claramente positivos para ele e para quem com ele está. Fernando Henrique dizendo que os aposentados são vagabundos é um exemplo das segundas, com efeitos altamente negativos para o próprio e seus aliados.
Umas e outras costumam durar anos, muito mais do que imaginavam seus autores quando as protagonizaram. A infeliz frase do ex-presidente continua viva no imaginário de eleitores de todos os tipos, como se vê diariamente em pesquisas qualitativas feitas de norte a sul do país. Até quem não tinha idade para votar em 1998, ano em que foi cunhada, se lembra dela. Coisa parecida acontece com algumas de suas predecessoras: a caspa de Jânio Quadros, o cheiro de cavalo de João Figueiredo.
Por tudo que tem afirmado, é claro o argumento central da campanha que Lula imaginou para sua candidata: convencer os eleitores de que seu governo foi melhor que o do PSDB por ele ser uma pessoa diferente, mais próximo do povo e mais preocupado com ele. Em 2010, na hora de escolher seu sucessor, os eleitores deveriam, portanto, identificar a pessoa certa para o cargo de maneira parecida. Quem eles querem que governe o país: alguém da "elite" ou alguém do "povo"?
A foto é tão favorável à tese do presidente que há quem suspeite que tenha sido encenada nos mínimos detalhes: marido e mulher juntos, a roupa dos dois, sua postura, o isopor inconfundível. Se foi, parabéns para quem a imaginou e produziu. É coisa de profissional, de quem sabe como pensa a maioria do eleitorado.
É pouco provável que Lula não soubesse que poderia ser fotografado em sua caminhada de volta da praia. Afinal, o trabalho dos fotógrafos é captar imagens, e o presidente não devia supor que estava em um lugar desconhecido por eles. Ao contrário. Quando, então, levantou o isopor e o colocou na cabeça, ele sabia o que estava fazendo.
Enfim, pode ser que, na hora de votar, as pessoas pouco se importem com tudo o que a foto sugere. Pode ser que queiram apenas fazer uma comparação racional de candidatos, preferindo Serra por sua biografia, mesmo que Dilma seja a representante desse presidente tão querido e tão "gente como a gente". Pode até ser. Apenas não é provável.
O texto foi escrito por, Marcos Coimbra é Sociólogo e dono do Instituto Vox Populi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário