José Saramago era apaixonado por futebol.
Pouca gente lembra disso.
Certa vez, depois de uma derrota da seleção portuguesa.
Saramago sentenciou ao jovem Luís Figo:
“O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas.
O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas…”
Figo guardou as palavras e sorriu.
Durante suas visitas secretas ao Estádio da Luz ou ao Estádio das Antas.
Saramago filosofava sobre os heróis nas arquibancadas.
Pois o que é o torcedor de futebol senão o próprio elogio da cegueira?
Ao ver a multidão repetir o sinal da cruz.
Pedindo aos céus a vitória.
Saramago respondeu ao amigo que lembrava o ateísmo do escritor:
“Mas todo dia eu procuro um sinal de Deus.
Pena que não o encontro!”
Saramago que fazia o sinal da cruz em segredo.
Por via das dúvidas.
Foi assim, driblando memoriais dos clássicos e dos conventos.
Habitando espaço e memória.
Que José Saramago construiu na literatura seu Maracanã.
Seu Palácio de Mafra.
Saramago que torcia em resguardo pelo time de sua paixão.
Sem vestir camisas.
Sem gritar refrão.
Pois cada um deve seguir seu caminho, seu coração.
Qualquer tentativa de convencer o próximo.
É mera colonização.
Futebol, Deus, Comunismo, Dom João.
Tudo são apenas formas.
Porque ao final dos 90 minutos de letra e bola rolando.
Escritor, leitor, fiel e ateu.
São todos prisioneiros de um conto desta ilha desconhecida.
Chamada vida…
Por Roberto Vieira
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