quarta-feira, 16 de junho de 2010

Copa na ocupação: funcionários na reitoria da USP não perdem estreia do Brasil

Os trabalhadores da Universidade de São Paulo acampados no prédio da reitoria desde o último dia 8 tiveram um racha na tarde de ontem. Não no movimento – que fique bem claro – mas nas opções para assistir ao jogo Brasil e Coreia do Norte, a estreia da seleção na Copa do Mundo da África do Sul.
Primeiro tempo. Enquanto mais de 50 torcedores se frustravam em um saguão da reitoria diante do jogo morno apresentado pela seleção brasileira na etapa inicial, outros 40, do lado de fora, torciam para a Coreia.
Do lado de dentro, a torcida brasileira aguardava o gol com os olhos grudados em um telão, montado para a ocasião. Já os "coreanos de plantão" tentavam enxergar os lances em uma pequena tevê trazida por uma das trabalhadoras em greve.
“Torço contra o Brasil desde o começo dos anos 70, quando a ditadura militar ia à TV enaltecer as conquistas do futebol brasileiro ao mesmo tempo em que torturava e matava companheiros nossos”, justifica Magno de Carvalho, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp). “Jurei então que, no futebol, nunca mais torceria para o Brasil.”

Intervalo. Os quase 100 grevistas que reivindicam isonomia salarial e que ocuparam a reitoria para pressionar o pagamento dos 16 dias cortados precisamente dos trabalhadores com salários mais baixos – “numa queda de braço desleal para enfraquecer o movimento”, segundo a simpatizante Karen Maria da Silva – se juntaram do lado de fora. Alguns para conversar, outros para fumar. Outros ainda para conferir as apostas no bolão.

Segundo tempo. A seleção voltou mais animada. Diante do telão, muita gente roendo as unhas. Outras não. Mas a preocupação também era grande. É o caso do dirigente sindical Wilson Maia, que se disse feliz com a contratação de Luis Felipe Scolari para dirigir seu time, o Palmeiras, e com a possibilidade da volta do chileno Valdívia, que também está na Copa.
Entre desabafos da frustração com a seleção, ele comentava sobre a situação dos trabalhadores da maior universidade pública do país. “Como a reitoria pode dizer que a categoria é a mais bem paga embora seja a mais mal preparada? Eu, por exemplo, que sou técnico de laboratório de ensaios na Escola Politécnica, com curso superior e 15 anos de casa, ganho R$ 1.600”, desabafa.
A comemoração do primeiro gol trouxe alívio e muitos até esqueceram a razão de estarem assistindo ao jogo bem ali, longe de casa e da família. De fora, vinha uma vaia, que foi maior no segundo gol. Depois o silêncio com a reação inesperada dos coreanos. Até que, quase no final do jogo, veio a surpresa. Susto para uns, alegria para outros: a Coreia do Norte diminuiu aos 43 minutos.
A única coisa compartilhada pelas duas torcidas foi uma imensa bacia de pipoca.

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