A ex-servidora da Câmara Lúzia Ribeiro dos Santos afirma que foi funcionária fantasma no gabinete do deputado Paulo Bauer (PSDB-SC) na legislatura passada. Em entrevista ao Congresso em Foco, ela disse que ficava apenas com o tíquete-alimentação da época, de R$ 350. O restante do salário era transferido para contas da chefe do gabinete à época, Verena Loch Santos, e de seu marido, João José Santos, que depois a substituiu no cargo.
“Eu trabalhei na condição de laranja. Eu recebia somente o tíquete e o restante do dinheiro era passado todo para ele, para o Paulo Bauer”, disse Lúzia Ribeiro, na tarde de segunda-feira (23). De acordo com ela, o salário entregue variava entre R$ 1 mil a R$ 5 mil, chegando a R$ 11 mil certa vez.
De acordo com boletins administrativos da Câmara, Luzia foi contratada em 3 de fevereiro de 2003 para o gabinete de Bauer, com o cargo de secretária parlamentar SP-26, atualmente no valor de R$ 3 mil. Ela foi exonerada em 1º de março de 2005.
“Eu nunca frequentei o gabinete, a não ser quando tinha que levar meus filhos ao departamento médico”, disse Luzia. “Aí, eu ficava no gabinete, mas era um passatempo.”
Lúzia disse que recebia os valores em uma conta poupança da Caixa Econômica. Não havia saque de dinheiro, afirma. Era ela ou o então marido, José Cláudio da Silva Antunes, quem fazia a transferência bancária para as contas de Verena ou João, conforme contou ao site.
Acordo
Em gravação feita em 27 de maio deste ano, Cláudio conversa com Bauer sobre contratações de funcionários fantasmas no gabinete do deputado licenciado, atualmente ocupado por seu suplente, Acélio Casagrande (PMDB-SC). Em dado momento, Cláudio diz a Bauer que sua ex-mulher e seu irmão, Carlos Silva, trabalharam para ele com base no “acordo dos tíquetes”.
Bauer responde aos comentários com dois monossilábicos “Sei”. Depois procura entender a lotação de Carlos Silva. Cláudio diz que a namorada de Carlos, Selma Batista, provavelmente é uma funcionária fantasma no gabinete e mostra os atos de nomeação e exoneração da ex-servidora.
Em seguida, Bauer interrompe a argumentação de Cláudio:
“– Bom, a verdade é a seguinte. Os que eu contratei todos trabalham (...) Só uma pessoa de Brasília que foi colocada, a meu pedido (...) Tanto é que o dinheiro que essa mulher recebe é passado mensalmente, pro Fábio Dalonso, dia 20, 25”.
Ou seja, segundo as gravações obtidas e as entrevistas concedidas ao site, Cláudio e Lúzia alegam que eram fantasmas: Selma Batista, Carlos Silva e a própria Lúzia. De acordo com Cláudio, todos os salários eram repassados a Bauer. Os funcionários ficavam apenas com o tíquete-alimentação.
“Doido”
Selma Batista não foi localizada pelo Congresso em Foco. Carlos Silva não quis gravar entrevista, mas disse ser “mentira” que foi funcionário fantasma do gabinete de Bauer e que seus salários fossem entregues a João Santos e Verena Loch. Afirmou que fazia “de tudo, geral” no gabinete.
Verena também não quis gravar entrevista. Mas afirmou que Cláudio “está doido” e que, desde agosto de 2008, quando destruiu objetos de dentro de casa, nunca mais foi o mesmo. Afirma que sempre manteve uma relação de confiança com o ex-servidor, entregando-lhe cópias de chaves de sua residência e de suas senhas bancárias.
“Uma vez, ele me disse: ‘Eu vou ser demitido, mas vou fazer com que o João seja também’”, contou Verena. João e Cláudio respondem a processo administrativo por suposta participação no comércio ilegal de créditos de passagens, mas apenas o segundo foi exonerado.
A mulher de João Santos diz que Cláudio está desequilibrado financeira e emocionalmente. Afirma que existem ocorrências policiais contra ele dando conta de agressões à esposa, o que comprovaria essa situação.
João Santos diz que, à época da contratação de Luzia, não trabalhava com Bauer. “Jamais houve qualquer transferência, repasse, entrega de recurso para mim ou para minha esposa, Verena L. Santos, em espécie ou depósito bancário pela servidora citada”, disse ele, em mensagem de correio eletrônico.
Dificuldades financeiras
Carlos, o irmão, diz que os familiares têm tido dificuldades de relacionamento com Cláudio, apesar de ajudá-lo financeiramente. Isso porque a pensão alimentícia alimentícia dos cinco filhos de Cláudio está atrasada. “As dificuldades financeiras dele devem estar levando ele a ter essa atitude de atirar para tudo quando é lado”, avalia o irmão.
Bauer afirma que as declarações de Luzia, sobre ser funcionária fantasma, não condizem com a realidade. “Ah, ah, ah, meu Deus do céu. Vamos ter que fazer um filme”, desdenhou.
fonte: congresso em foco
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