quinta-feira, 23 de junho de 2011

Decisão estritamente política

Ficou muito claro na sessão da Câmara da última segunda-feira que a decisão tomada pelos vereadores tucanos comunistas em votar a favor da rejeição das contas de 2007 do ex-prefeito Mário Ielo foi estritamente política. O resultado era previsível, já divulgado com antecedência pela imprensa.

Os documentos apresentados pelo vereador Lelo Pagani (PT) provando que Ielo estava certo pouco interessavam. O que valia naquele momento era a tentativa a todo custo de tentar inviabilizar o futuro político de um dos mais brilhantes prefeitos que já administrou a cidade.

Os vereadores que defenderam o voto a favor de Mário Ielo (os do PT mais o Abelardo e Nenê) deixaram claro que em nenhum momento foi apontado algum tipo de improbidade administrativa, como corrupção, roubo ou desvio de recursos públicos. Trata-se de um rigor excessivo do Tribunal de Contas que, aliás, é bastante questionável.

Ficou claro nas declarações dos vereadores que foram destacados para fazer o serviço de condenar o ex-prefeito que eles estavam envergonhados do papel que foram obrigados a cumprir, tentando justificar o injustificável. Alguns argumentos chegaram a ser ridículos. Deve ser difícil, até para eles, terem de votar contra um ex-prefeito que foi tão bem avaliado e que não havia sido criticado na época que ocupou o cargo.

Vale lembrar que na primeira vez que o Tribunal de Contas recusou as contas, afirmou que haviam sido aplicados apenas 20% em educação. Depois reconsiderou e chegou aos atuais 24,31%. Ielo provou com os documentos apresentados que, aplicou sim até mais do que os 25% exigidos pela Constituição. Mais que isso, sempre demonstrou respeito pelo dinheiro público nos investimentos em educação.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Comissão quer a cabeça de Ielo. Lelo Pagani não concorda com decisão e fará relatório em separado

A máquina que pretende alijar o ex-prefeito Mário Ielo das próximas eleições cumpriu mais uma de suas missões. A Comissão de Orçamento, Finanças e Contabilidade da Câmara, formada pelos vereadores Dr. Bittar (PCdoB), Reinaldinho (PR) e Lelo Pagani (PT) apresentou na terça-feira, dia 14, um relatório favorável ao Parecer do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) referente a rejeição das contas de 2007 do ex-prefeito Mário Ielo.

O vereador Lelo Pagani não concordou com a decisão, que entendeu política e apresentou relatório em separado. Os demais membros da comissão ignoraram a concisa defesa de Mário Ielo, que está sendo acusado de economizar dinheiro público. Segundo o Tribunal, Ielo teria gasto 0,7% a menos do que deveria em educação. O prefeito alegou que os restos a pagar não foram incluídos na conta do Tribunal.

Vale lembrar que o atual Governo, capitaniados pelo prefeito João Cury e pelo secretário de Educação Narciso Minetto (aquele que não gosta de folclore), trabalha incansavelmente nos bastidores para tentar fugir do embate nas próximas eleições. A determinação é para tentar de todas as maneiras cassar a candidatura do ex-prefeito petista. A situação chegou ao cúmulo de Minetto publicar em um jornal local matéria paga de uma página com supostos 45 motivos para "detonar" Ielo.

A decisão de tirar Ielo do cenário eleitoral foi reforçada depois que os líderes tucanos tiveram acesso a uma pesquisa de intenção de voto para prefeito que não apresentou números favoráveis ao atual governo. Segundo uma fonte, Ielo teria mais do que o dobro das intenções de voto de João Cury.

Com a decisão da Comissão, cabe ao presidente da Câmara, vereador Curumim (PSDB), dar andamento ao processo e levar o Parecer do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo à apreciação do Plenário.

Érick Facioli

FHC, Fujimori e as extravagâncias da atuação tucana

Dia 8 de junho último tivemos mais uma demonstração de como é difícil para os tucanos conviverem com os sucessos dos governos Lula/Dilma na esfera internacional. Desta vez, foi o líder do PSDB que comandou mais uma ação extravagante no plenário da Câmara dos Deputados ao pedir para ser apreciado um requerimento solicitando a aprovação de um “voto de repúdio à presidenta Dilma Rousseff por não receber a Senhora Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz, advogada iraniana de Direitos Humanos”.
Diante deste impetuoso requerimento, alguns pensaram que ele estava apresentando sua candidatura ao cargo de “agendeiro” da presidenta Dilma, mas outros lembraram ao deputado que a ordem natural das coisas é outra: primeiro é preciso ganhar as eleições para presidente da República para em seguida construir-se a agenda diplomática do país.
Curiosamente, aqui no Brasil, uma oposição reiteradamente derrotada se arvora em responsável pela agenda diplomática do país e quer enfiá-la a ferro e fogo na garganta presidencial. Talvez até sem consultar a senhora Shirin Ebadi, cujos respeitáveis interesses certamente não passam por arrombar a porta do gabinete da presidenta, nem pelo atropelo de sua agenda. Isso se depreende de repetidas declarações de Shirin Ebadi de respeito e consideração por Dilma Rousseff e por suas tomadas de posição em matéria de direitos humanos.
Mas não bastasse o requerimento descabelado, para exibir seus profundos conhecimentos sobre diplomacia contemporânea, o líder do PSDB precisava despejar seu balaio de impropérios contra o ex-presidente Lula e suas supostas preferências por ditadores.
Depois dessa sessão de impropérios a palavra me foi concedida para falar, em nome do Partido dos Trabalhadores, contra a proposição estapafúrdia. Além de defender o ex-presidente Lula e de mostrar a impertinência da iniciativa do líder do PSDB, fiz um breve relato sobre as relações íntimas entre FHC e o ditador nipoperuano Alberto Fujimori, já que repentinamente o líder tucano estava dando mostras de inusitado zelo pelos direitos humanos.
Aproveitei o espaço para informar ao líder do PSDB que FHC foi o único presidente de toda a América do Sul que apoiou a tri-reeleição de Alberto Fujimori, antigo candidato a ditador perpétuo do Peru. E mais, que ele condecorou aquela figura sinistra com a Ordem do Cruzeiro Sul, comenda máxima concedida pelo Estado brasileiro a personalidades estrangeiras.
Felizmente o Senado brasileiro já aprovou um Projeto de Decreto Legislativo (PDL), de autoria de Roberto Requião, anulando a concessão da Ordem do Cruzeiro do Sul ao ex-ditador peruano. Na Câmara, este PDL já foi aprovado na Comissão de Relações Exteriores, faltando apenas passar pela Comissão de Constituição e Justiça para ir ao plenário.
Este é um bom momento para concluir a tramitação do projeto, até como forma de congratulação com o povo peruano que, elegendo Ollanta Humala, como presidente da República, no dia 5 de junho último, impôs uma derrota importante ao chamado fujimorato, que através da candidata Keiko Fujimori, filha do ditador, tentava reintroduzir a máfia comandada por seu pai no governo do Peru.
Como se isso não fosse suficiente, vale acrescentar que no ano 2000, quando ficou claro que o povo do Peru, nas ruas, derrubaria o ditador sanguinário e sua quadrilha, a diplomacia brasileira, sob a direção de FHC, colaborou na tarefa constrangedora de, enquanto Fujimori fugia para o Japão, arrumar um refúgio para o tenebroso Vladimiro Montesinos.
FHC ajudou a pressionar Mireya Moscoso, então presidenta do Panamá, para solicitar que aquela nação centro-americana concedesse asilo a Vladimiro Montesinos, íntimo companheiro de jornada de Alberto Fujimori, chefe de seu serviço de inteligência e coordenador do narcotráfico peruano.
Por último, me coube informar ao Líder do PSDB que o ex-ditador Alberto Fujimori, juntamente com Vladimiro Montesinos, hoje cumprem severas penas numa base naval de Callao e a hipótese de anistia, com a qual sonharam, evaporou-se no domingo, 5 de junho último, quando o povo peruano elegeu Ollanta Humala presidente de República. Aliás, Humala nos honrou escolhendo o Brasil como primeiro pais a ser visitado depois do triunfo popular. Foi recebido pela presidente Dilma Rousseff em Brasília e pelo ex-presidente Lula em São Paulo.
Diga-se a favor do líder do PSDB que, quando tomou conhecimento das informações acima citadas, tartamudeou alguma explicação incompreensível sobre sua percepção a respeito de Fujimori. Chegou até a perguntar ao presidente da sessão se era possível trocar o “repúdio” por algum termo legislativo mais brando. Informado de que isso não era possível, viu sua proposição esdrúxula receber minguados 60 votos.
Mas as extravagâncias da oposição comandada pelo PSDB não se limitam à pauta internacional. No dia da votação do Código Florestal o plenário e as galerias da Câmara puderam testemunhar, estarrecidos, o comportamento condenável de vários deputados da oposição que vaiaram o anúncio do assassinato dos extrativistas Júlio Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, no Pará. Não escapou a ninguém que aquelas vaias equivaliam a um aplauso ao crime. Muito seguramente, não é com a apologia do crime que se consolida uma democracia.
Tudo isto mostra até onde pode chegar uma oposição isenta de base popular, carente de bandeiras, desprovida de um projeto nacional e, por último, mas não o menos importante, ideologicamente derrotada, sobretudo depois do colapso dos dogmas do consenso de Washington.
Esta orfandade múltipla explica um comportamento da oposição cada vez mais chegado ao do “modelito” Simão Bacamarte, criado por mestre Machado de Assis. Atualmente, só lhe resta se guiar por uma pauta impregnada por um moralismo tão suspeito, como falso e seletivo, de uma imprensa monopolista e cada vez mais irrelevante. À falta do lenitivo pseudomoralista da imprensa, só lhe restaria o caminho do manicômio do alienista.

Jilmar Tatto é deputado federal (PT-SP), vice-líder da Bancada do PT na Câmara.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Palocci e o poder da direita midiática

Por: Eduardo Guimarães

Acompanhei, passo a passo, o surgimento das redes sociais no Brasil. Egresso de uma época em que, para a esquerda, era dificílimo fazer política por falta do que sobrava à direita, isto é, os meios de se comunicar com a sociedade, cheguei a acreditar em que o acesso que agora a mesma esquerda tinha à comunicação deixaria a direita fora do poder por muito tempo.
O inacreditável caso Palocci mostra que me enganei. Nem a esquerda tendo agora meios de se comunicar – como os blogs, o Orkut, o Facebook, o Twitter e congêneres –, mostra-se capaz de superar a sua deficiência histórica que a ditadura militar tão bem detectou: esquerdistas só se unem na cadeia, ou seja, exclusivamente em situações-limite.
A mais nova crise política no governo federal petista, depois de oito anos de crises da mesmíssima natureza e desencadeadas exatamente da mesma forma, apesar de feita de puro vento foi vitaminada pelo moralismo de salão de setores da esquerda, pela luta por espaço dentro do PT e porque a direita ainda é infinitamente mais poderosa na comunicação.
O Brasil conseguiu um feito extraordinário durante o governo Lula. Feito que está na origem da volta dos mesmos ataques virulentos ao governo Dilma que foram desfechados contra o governo de seu antecessor. Lula promoveu uma incrível distribuição de renda em curto espaço de tempo e, vendo que Dilma pretendia seguir-lhe os passos, a direita voltou ao ataque.
Entre 2003 e 2010, em meros oito anos, o governo Lula diminuiu a concentração de renda a nível inferior àquele em que estava antes da ditadura militar, que fez a desigualdade subir meteoricamente, razão pela qual o golpe de 1964 foi dado, ou seja, para tornar os ricos mais ricos e os pobres, mais pobres.
A distribuição de renda deveria ser o objetivo de toda a esquerda, a mais radical ou a mais de centro, mas a natureza contestadora é, ao mesmo tempo, a benção e a maldição da esquerda.
Não basta que o índice de Gini tenha caído de 0,583 em 2003 para 0,530 em 2010, mostrando o caráter inclusivo do governo Lula. Certa esquerda despreza os anseios do povo em prol dos seus dogmas pseudo moralistas que, em verdade, constituem recusa em aceitar o fato de que vivemos em um país capitalista.
Desprovidos do entendimento de que não é possível promover uma revolução socialista só por chegar ao poder porque a sociedade brasileira, em maioria, é conservadora, o PT, que remou unido para conquistar a Presidência da República, sofreu defecções no primeiro mandato de Lula que deram origem àqueles que, por não terem perspectiva de poder, decidiram se travestir de grilos falantes da política nacional.
O PSOL nasceu, acima de tudo, da liderança limitada e tresloucada de Heloisa Helena dentro do PT. Por suas posições intransigentes, HH viu-se quase isolada no partido e saiu atirando em Lula, por quem desenvolveu um nível de rancor que envolveu outros petistas que a acompanharam.
Eleitoralmente, o projeto de HH e outros petistas que dividiram seu projeto de discordar de tudo e de todos e de não se compor com ninguém materializou o fracasso previsível. O PSOL tem três deputados federais, hoje. E só aparece quando se une à direita para atacar o governo petista. Por isso, toda vez que a direita midiática inventa um escândalo o PSOL está entre os primeiros a colaborar.
De uns tempos para cá, depois que Heloisa Helena sucumbiu eleitoralmente e foi praticamente esquecida, os psolistas passaram a usar as redes sociais para como que se infiltrarem na poderosa máquina de redes sociais que apoiava o governo Lula, muitas vezes afetando um apoio de fachada para, ao primeiro escândalo forjado, começar a vender seus dogmas éticos.
O caso Palocci exibe um processo de “psolização” do PT, com união de psolistas legítimos a petistas “arrependidos” que passaram a entoar contra o chefe da Casa Civil bordões moralistas que foram se tornando viscerais nesses “cristãos novos”, empurrando-os para a posição irracional de, como o PSOL sempre fez, fazerem coro com a direita midiática.
Lendo os colunistas da grande imprensa de direita e os comentários e posts nas redes sociais, neste momento, fica difícil discernir quem é o autor dos discursos moralistas cheios de frases feitas que dispensam não só provas contra Palocci, mas um só mísero indício contra ele. Não se sabe mais quem é quem.
Alguns dos “psolizados” dão como razão para derrubar Palocci até o argumento espantoso de que ele não é suficientemente de esquerda. Como a mídia, não sabem do que é acusado. Citam enriquecimento ilícito e, quando questionados, recorrem a Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo, Eliane Cantanhêde, Merval Pereira e outros “filósofos” da reação brasileira.
Citam o argumento da “mulher de Cesar”, de que Palocci teria que parecer honesto e, como não lhes parece honesto, deve cair. Citam a condenação “política”, que dispensaria provas e indícios, o que não passa de sintoma ditatorial. Citam o caso do caseiro Francenildo, endossando uma das farsas mais escandalosas que a política brasileira testemunhou.
Não faltaram petistas arrependidos – ou “psolizados” – aludindo ao “pobre caseiro”. Sempre seguindo a liderança do que a própria esquerda batizou como Partido da Imprensa Golpista (PIG), misturaram o caso dele com o do patrimônio de Palocci. Agora havia que derrubá-lo por um caso que a Justiça julgou que nada tinha que ver com o ministro.
Aliás, o fato de que Francenildo Costa não processa Palocci, mas só a revista Época pela quebra de seu sigilo, ou o fato de que recebeu em sua conta bancária 40 mil reais uma semana antes de acusar Palocci, em 2005, e de ter se reunido com o DEM, uma semana antes, ou de o pai “generoso” ser filiado ao mesmo DEM, nada disso levanta suspeita nessa esquerda.
No começo da nova ofensiva da direita midiática, esta colheu uma das denúncias contra Palocci na questão do caseiro que a Justiça rejeitara e tratou de enfiar nas cabeças “psolizadas” de parte do PT. E petistas descontentes com as sinecuras que o governo de seu partido lhes disponibilizara “colocaram pilha” nessa armação.
A Caixa Econômica teria dito, na investigação da violação de sigilo do “pobre caseiro”, que fora o gabinete de Palocci, então ministro da Fazenda, que requisitara o estrato da conta da suposta vítima de quebra de sigilo bancário. A mídia tratou de apresentar isso como novidade, mas a Justiça já recebera a denuncia e a desprezara, negando o indiciamento de Palocci.
Outra empulhação é a cobrança dos nomes das empresas às quais Palocci prestou serviço. Tais nomes estão disponíveis há muito tempo na internet, desde os primeiros movimentos do ataque ao ministro.
Neste domingo, semanas após o início do escândalo, vários colunistas do PIG e petistas arrependidos e “psolizados” continuam batendo na tecla do nome das empresas às quais Palocci prestou serviços. A coluna de Eliane Cantanhêde pode sintetizar o discurso daqueles que tanto de boa quanto de má fé insistem no que já veio a público faz tempo.

Vejam:

FOLHA DE SÃO PAULO
5 de junho de 2011
ELIANE CANTANHÊDE

Vão-se os dedos, ficam os anéis

BRASÍLIA - Não faz o menor sentido Antonio Palocci, chefe da Casa Civil pelo menos até o fechamento desta edição, demorar três semanas para dizer o que disse aos brasileiros em entrevistas à Folha e à Rede Globo: que a Projeto, sua empresa de um empregado só, é legal e declarou seus ganhos à Receita.
Isso ele poderia ter dito no primeiro dia depois que a Folhapublicou a reportagem sobre a multiplicação do patrimônio dele por 20, incluindo um apartamento de R$ 6,6 milhões que ele pagou praticamente “cash”. Ou quando a mesma Folhainformou que o faturamento da empresa fora de R$ 20 milhões no ano eleitoral. Ou, ainda, quando acrescentou que, ao receber metade disso, já era chefe da transição e virtual primeiro-ministro.
O principal continua soterrado por interrogações. Quem pagou? Por que pagou? Que consultoria mágica era essa? O resto dos recursos foi aplicado, doado ou está debaixo do colchão? Ou seja: de onde veio e para onde foi o dinheiro?
Isso tudo sem falar que apartamentos, histórias mal contadas e dinheiros estranhos continuam se amontoando com a quebra do sigilo do caseiro Francenildo, que relatou a presença de Palocci numa casa esquisita onde rolavam malas de dinheiro e uma gente heterodoxa de Ribeirão Preto.
Como Palocci está no topo da pirâmide do governo, ao desabar deve arrastar Luiz Sérgio, das Relações Institucionais, e toda a coordenação política, facilitando uma rearrumação no Planalto que pode se espalhar pelo Congresso. Dilma tem uma crise, mas também a chance de um freio de arrumação.
Quanto a Palocci, não tem do que reclamar. Foi abandonado pelo PT, pelo governo e pela própria Dilma, mas manteve a fidelidade à clientela e está livre para simplesmente voltar à Projeto e às suas “consultorias”. Bom negócio.
No caso dele, como eu disse ontem na Rádio Folha, vão-se os dedos, ficam os anéis. E que anéis!

É muita desfaçatez. Todos sabem quem são as empresas às quais Palocci prestou serviço. Aliás, farto dessa hipocrisia, o blogueiro Mello reproduziu o nome dessas empresas e, ao fim, convidou a grande mídia a ir para cima delas, cobrando as explicações que Palocci não pode dar por força de contratos, mas que disse que as empresas, se procuradas, poderiam dar.
Os clientes de Palocci estão entre as maiores e mais eminentes empresas do país. Seria impossível esconder que prestou serviço a elas e foi por isso que a lista de seus nomes veio a público faz tempo. Vejam a relação:

Itaú Unibanco
Pão de Açúcar
Íbis
LG
Samsung
Claro-Embratel
TIM
Oi
Sadia Holding
Embraer Holding
Dafra
Hyundai Naval
Halliburton
Volkswagen
Gol
Toyota
Azul
Vinícola Aurora
Siemens
Royal Transatlântico
Santander
Bradesco Holding
EBX

Ao fim da lista, o blogueiro Mello aponta o óbvio ululante, mas que ninguém parece enxergar: vão todos, a manada enfurecida e irracional, a imprensa golpista e a oposição midiática para cima dessas empresas e cobrem explicações delas, pois não existe corrupto sem corruptor.
Alguém acredita que a Folha ou a Globo ou o Estadão ou a Veja ou mesmo os políticos que essas empresas financiam com doações de campanha questionarão uma só entre elas? Jamais, meus caros. Até porque, cobrar informação que já vazaram faz tempo ajuda a sustentar a estratégia da direita e a irracionalidade da esquerda.
Enquanto isso, a mídia vai tratando de insuflar os inocentes úteis espalhando versões sobre Dilma, por exemplo, já estar escolhendo o substituto de Palocci ou estar “consultando Lula” sobre o que fazer. A verdade, porém, é que Dilma não só já manifestou confiança no ministro como Lula já lhe disse que, se ele cair, o governo estará fadado a “se arrastar” até 2014.
Vale, finalmente, citar o argumento mais inacreditável das mentes “psolizadas” de pessoas sérias, mas desumanamente ingênuas: se Palocci não cair, a mídia não deixará Dilma em paz. Como se a queda de Palocci interrompesse um processo de bombardeio e sabotagem que permeou todo o governo Lula e que já mostra que continuará neste governo.
O caso do “livro que ensina errado”, das obras da Copa que a direita já adivinhou que não ficarão prontas a tempo e muito mais que vem sendo atirado contra o governo Dilma mostram que, vendo que os gestos de boa vontade da presidente nas primeiras semanas de governo não significavam rendição, essa mesma direita midiática voltou ao ataque.
A queda de Palocci não mudaria nada. A mídia continuaria inventando “escândalos” como fez durante todo o governo Lula, dia após dia, semana após semana, um mês após o outro…
Tudo isso mostra, por fim, um fato que muitos já não enxergavam e que, agora, torna-se escandalosamente gritante: o poder de manipulação da direita midiática é imenso, gigantesco, capaz até de levar gente politizada, inteligente e honesta a embarcar em uma farsa inaceitável no Estado Democrático de Direito, que exige que Palocci prove que não fez nada errado.
As cobranças de informações de Palocci escondem, escandalosamente, o fato de que ele já as havia fornecido à Controladoria Geral da União e ao Ministério Público Federal antes de entrar no governo. Essas instituições já haviam analisado contratos, nomes de empresas e deram sinal verde. E agora estão recebendo os dados de novo e deverão dar o mesmo parecer.
No entanto, a direita midiática e os petistas “psolizados” e arrependidos fazem questão de ignorar esse fato, simplesmente fazendo o jogo do desentendido, cobrando que venha a público aquilo que Palocci, sem anuência de seus clientes, não pode dizer simplesmente porque se comprometeu por escrito, o que não impede que tais empresas dêem informações.
Mas quem vai cobrar as empresas supracitadas? A Folha, a Veja, o Estadão, a Globo? Podem esperar sentados, que de pé cansa. Nem o PIG, nem a manada útil farão isso. Porque o objetivo não é esclarecer nada, é confundir. A direita por jogada política e a esquerda por uma irracionalidade que lhe é característica desde sempre.

PS: é sempre bom reiterar o que já escrevi diversas vezes nos posts que tenho publicado sobre o caso Palocci. Apóio a postura de amigos jornalistas que estão simplesmente usando para Palocci o critério que usaram para tucanos e demos ou quaisquer outros. Julgo que o papel do jornalismo é esse mesmo, desde que use o mesmo peso e a mesma medida para todos os lados. O texto se refere à militância.

do Blog da Cidadania (www.blogcidadania.com.br)