sábado, 2 de abril de 2011

José Alencar e a mudança político-cultural no Brasil

Quando senador pelo PMDB, José Alencar, então presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, já tinha um olhar diferente sobre o papel que Lula e o PT teriam na sociedade brasileira. O empresariado amargava um período de fraco crescimento da economia (portanto ao desagrado dele), com um governo que tinha como política segurar a inflação, o gasto público, administrar o câmbio, diminuir a presença do Estado e deixar para o capital privado outras macroiniciativas na economia (isto do agrado do empresariado). Era o que chamamos de ideologia neoliberal, com a qual José Alencar mostrou não concordar.
Alencar admirava a figura de Lula, como dizia ele, ‘um titã’ - uma figura forte com poderes extraordinários -, como alguém que poderia dar nova direção e novo ânimo ao Brasil. Alencar buscava um novo ciclo de desenvolvimento, com franca expansão do mercado interno, que segurasse o excessivo apetite do capital financeiro, portanto próximo a linhas conjunturais que o PT preconizava. Não há dúvida que as ideias de Alencar, tiveram peso nos compromissos que a quarta candidatura de Lula apresentou ao povo brasileiro.
Ele tinha plena consciência de que o Brasil ganharia muito se a sua classe empresarial reconhecesse a liderança daquele genial operário, que conhecia o Brasil mais do que todos, que tinha uma visão consolidada sobre um novo caminho de crescimento com distribuição de renda, estritamente dentro de regras democráticas e princípios republicanos. Lula, ao mesmo tempo, ficou impressionado com aquele empresário de espírito nacionalista e aberto às transformações. Consolidou-se deste modo, como dizia o próprio Alencar, ‘a aliança entre o trabalho e o capital, pela primeira vez sob a liderança do trabalho’. Aliança outras vezes tentada, por Vargas e Jango, mas com a elite na cabeça (aliança entre a burguesia nacional e o proletariado, como à época se chamavam o empresariado e os trabalhadores).
Alencar contribuiu singularmente para uma grande mudança política e cultural, facilitada talvez porque também viera de uma família pobre e não renegava este passado. Ele concordava que não mais se escolhesse para dirigir o país apenas alguém pertencente ao mundo dos ricos, dos acadêmicos, dos generais - a nobreza da República. Podia ser um operário, aquele operário, não mais um doutor. Poderia mais adiante ser uma mulher, não precisava como sempre fora, ser um homem. Ele foi na prática um militante por uma sociedade menos discriminatória, mais democrática, que valoriza as pessoas pelo que são capazes de fazer pela coletividade, e não por sua riqueza ou seus diplomas.
José Alencar, esta generosa e grande figura brasileira que Minas nos concedeu, ajudou muito o Brasil a mudar para melhor, a respirar mais democracia, a vencer preconceitos, a resgatar a autoestima e dignidade do nosso povo, para uma grande mudança cultural em curso no país.
Elói Pietá - Secretário Geral Nacional do PT

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