O Itamaraty convidou todos os ex-presidentes brasileiros para o almoço que será oferecido ao presidente dos EUA, Barack Obama, no sábado, em Brasília.
O presidente Lula, segundo sua assessoria, declinou do convite, entendendo que o encontro é mais apropriado aos chefes de Estado.
Lula é ciente da responsabilidade de seu papel e de sua dimensão política. Haveria um gesto carregado de simbolismo político se ele fizesse uma distinção especial ao presidente dos EUA e não fizesse o mesmo às dezenas de presidentes africanos, latino-americanos e asiáticos que visitam o Brasil.
É como aquela história que ele conta, quando estava na presidência e no primeiro encontro de presidentes, todos se levantaram da cadeira quando Bush chegou, e ele não, afinal ninguém havia se levantado quando ele (Lula) havia chegado, então por que fazer um distinção especial ao presidente dos EUA? E não houve nenhum atrito nas boas relações por isso.
Voltando ao almoço do Itamaraty, se Lula fosse, compareceria como líder político, e estaria ali prestigiando não a pessoa de Obama, com quem sempre se relacionou bem pessoalmente, e sim as políticas que Obama carrega na bagagem, onde há contenciosos bilaterais e multilaterais com o Brasil em disputa.
E que sentido político haveria num encontro destes? Falar o quê, se Dilma dirá tudo o que o Brasil e ele teriam a dizer?
Só faria sentido fazer tal distinção especial, se Obama viesse ao Brasil anunciar alguma mudança de posição no protecionismo comercial, na flexibilização da posição dos EUA na rodada de Doha ou na conferência do clima; enfim, algum acordo importante para o Brasil ou para os países mais pobres, negociado ao longo do governo Lula, que estivesse sendo destravado. Fora isso, estaria apenas prestigiando indiretamente e sem querer, as posições estadunidenses travadas nas mesas de negociação internacionais.
Já FHC fez a mala e desembarcou em Brasília ainda na sexta-feira, a tempo de ser o primeiro da fila na "boca livre".
FHC não tem esse problema, porque ele também é ciente de sua dimensão política. No caso, da pouca dimensão que tem, pelo legado sofrível que deixou do seu governo e pelo próprio correr do tempo. FHC não vai prestigiar, vai atrás de prestígio para si. Com isso, animará metade da platéia de leitores demo-tucanos do PIG com suas fotos para revista "Caras", e irritará a outra metade ao ir, mais uma vez, bajular a presidenta Dilma Rousseff.